31.5.06


Há aqueles livros que a gente anda anos para ler, apesar de os ter à mão. Uma Conspiração de Estúpidos é um dos exemplos.
Quer-me parecer que ainda estou a recuperar de tanta estupidez. Que uma coisa é essa mesma estupidez andar de braço dado connosco e nós olharmos para o ar, assobiarmos e fingirmos que não vemos. Outra coisa é vê-la assim chapadinha à nossa frente, nas páginas de um livro, e não podermos fingir que não conhecemos pessoas iguazinhas e que nós próprios somos tantas vezes cópia fidedigna de alguns dos personagens.
Assim, que mal faz que os nossos próprios livros vão aguardando a sua vez de ser escritos, se o tempo não é completamente perdido?

Nat

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15.5.06


Não mostra. A Florbela não me mostra o que está a escrever. Nem quer ler o que eu estou a escrever.
Sim, é mesmo assim. A gente mostra e parece que lá vem agoiro. Ou então é mais uma desculpa.
Eu tenho estado parada. Pelo menos neste projecto. Parece que não se chega a tudo, não é?, e apeteceu-me voltar a meter o bedelho em cantos onde não entrava havia séculos, vidas inteiras.
Mas não se iludam, a Florbela que não pense que vai fazer isto sozinha.
Foi um acordo, e uma mulher tem honra, que diabo.

Nat

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9.5.06


Ui, que isto vai tão devagar. E penosamente.
A minha avó sempre disse que não devíamos dar passos mais largos do que a perna. Eu, pelo contrário, sempre tive a mania de esticar os passos. Mas lá que este é um passo largo demais, lá isso é.
Mas é assim, ou me surpreendo e o dou, ou desisto antes e nunca saberei. De qualquer modo, isto tudo requer é ginástica. Se ainda não for desta, pelo menos para a próxima estarei mais perto.
Aos poucos, aos poucos, as folhas vão-se enchendo, tomando forma, conhecendo-se entre si, espreitando-me.
Não, nada de preocupações, o tom do que está a ser escrito não tem nada a ver com este.

Nat

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3.5.06



Pois claro, já se sabia, ninguém disse que seria fácil. Também nenhuma de nós pensou que seria, que uma coisa é escrever para a gaveta ou para um blog, outra bem diferente é querer fazer do que se escreve uma coisa como deve ser, começando por obedecer àquilo que se aprende na escola, cabeça-tronco-e-membros. E já agora que se diga alguma coisa que valha a pena ler (que a gente já sabe que Margaridas há por aí muitas, a senhora que nos desculpe por ser dela o nome que representa toda a quilometragem de textos sem conteúdo, mas é preciso é simplificar).
E depois há o problema (ou a desculpa?) da falta de tempo, é o trabalho, a casa, os filhos, os outros livros, os óculos que se embaciam, as mãos que estão cansadas de teclar.
Como diz a Florbela, é preciso é querer, uma coisa assim a lembrar o deixar de fumar, pois se uma pessoa gosta de o fazer porque não há-de querer?
Eu, como fiz a tal batota e me agarrei com unhas e dentes a dois começos, penso que já me decidi. Ou melhor, assim que acabei de escrever isto, hesitei. Pois, até parece que é mais uma desculpa, como não sei qual continuo para este desafio, vou pensando no assunto. A verdade é que enquanto me decido, não faço nada, logo eu que não gosto nada de adiar decisões.
Então vai ser assim: já me decidi, vou mesmo pelo caminho mais difícil. Fracassar por fracassar que seja tentando o melhor.

Nat

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28.4.06


Sabia que não ia ser fácil e aqui estou eu, já perante um dilema.
Tinha decidido seguir o fio do texto que começou ansioso, apressado, extenso, quase uma febre, não fosse este termo arrumar-me na presunção de que posso ser como o outro e escrever por febre de escrever.
Eis que me surge outra possibilidade de escrita, eventualmente mais fácil. Opto pelo caminho mais fácil? Aventuro-me no mais difícil?
Diz-se por aí que devemos escrever sobre o que conhecemos. Mas afinal que conhecemos nós? Dá-me ideia que a escrita pode ser, ela própria, um aperfeiçoamento do nosso conhecimento, e então não podemos partir do princípio que devemos escrever sobre o que já conhecemos ou julgamos conhecer.
O caminho mais fácil, além desta característica, poderia completar a trilogia que pretendo concluir e que tem a pretensão de mostrar 3 ângulos de uma mesma tela; ou seja, o pano de fundo, o tom, as causas, as consequências não se modificam, apenas se analisam de formas diferentes.
O caminho mais difícil apetece-me mais, apesar de tudo. Por várias razões: porque não me apetece ser uma espécie de Lobo Antunes que escreve sempre sobre o mesmo; porque escrevi as primeiras páginas numa fúria de satisfação comigo mesma; porque gostaria de saber se sou capaz de o levar a bom porto.
Evidentemente, poderei trilhar os dois caminhos, um de cada vez, seria talvez mais sensato. Qual o que, neste momento, me sairia melhor?
Penso que vou pegar nos dois textos e ver que palavras me saem primeiro, ou com mais facilidade.

Nat

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26.4.06


Eu fiz batota, devo admiti-lo. Agarrei-me afincadamente a um começo daqueles que, como tantos outros, deixamos numa gaveta ou numa pasta esquecida do computador.
Agora é continuar, que para alguma coisa há-de servir este empurrão.
O pior é que escrever é como tantas outras coisas, a gente pára e depois para reencontrar o tom é o cabo dos trabalhos. Ou, pelo menos, assim é para mim. Tenho tendência a fragmentar o que escrevo. Aliás, isso vê-se por coisas tão simples como eu pegar num caderno, independentemente do que escrevi para trás, e registar um texto que, penso eu, após escrever, nalgum lugar há-de caber.
Pois claro, eu sei, de profissionalismo este método não tem nada, mas eu não sou profissional, nunca escrevi um livro, e parece-me que o texto mais longo que escrevi não excedeu as 60 páginas.
A tarefa não vai ser fácil e, como tantas outras, talvez naufrague antes de qualquer porto, mas isso é o que menos me importa agora.
Enquanto escrevo, aqui estou.

Nat

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24.4.06


“Gostava de escrever um livro.”
“Eu também.”
Entre dúvidas sobre se seríamos capazes ou não, lá nos decidimos, que isto às vezes só lá vai com estímulos exteriores.
Não evitamos pensar que a Margarida Rebelo Pinto, provavelmente, começou por pensar que gostaria de escrever um livro e deu no que deu. Mas que importa? Tentemos, pois então.
O primeiro problema parece comum às duas: tudo o que nos sai da pena sai profundamente escuro e tende a acabar em trágicas mortes.
A resolução também foi comum: tentaremos que este seja uma excepção à regra que, contra nossa vontade, se instaurou.
Seremos capazes?, duvidámos. Tentaremos, acabámos por decidir.
Dois projectos, foi então o que nos surgiu pela frente. Um em comum, por brincadeira, as 15 linhas, outro no recato que é a solidão de cada uma de nós.
Este blog será então o retrato desse segundo projecto, a tentativa de escrevermos um livro, de nos levarmos a sério, de nos concentrarmos em algo mais do que a vacuidade dos dias e das noites.
Cada uma de nós irá sentar-se em frente à folha de texto em branco, estalará os nós dos dedos e começará a teclar. Cada uma a seu modo. Com avanços, recuos, brancas, medos, não importa. Cada uma de nós irá finalmente pôr-se à prova.
O percurso e os eventuais resultados serão aqui expostos e com isso não deixamos de ser duas aprendizes, duas pessoas em busca de uma tábua onde, ainda que por escasso tempo, encontraremos alguma espécie de salvação.
Dizem que começar é o mais difícil.

Nat

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mil folhas



Antes das mil, a folha em branco. A angústia de que se fala. Ou não. Palavra a palavra, página a página, um capítulo depois do outro. Até chegar ao fim.